quarta-feira, 18 de maio de 2011

Em suas cartas aguardo o amor ainda não vivido

Dois corações solitários unem seus espíritos para protegerem-se contra os infortúnios desprezíveis da vida que moldam a face humana.

Não entregar-se cegamente ao desvario de uma paixão incandescente, é preservar-se de modo a degustar paulatinamente as delícias de viver um grande amor. Afogar em inúmeras decepções, é dissolver a preciosidade do tempo em dores e aflições inúteis que nos marcam a alma ainda ingênua e inexperiente.

Dores, tristezas e solidão se fazem necessários para o amadurecimento diante das situações desagradáveis que a vida constantemente nos apresenta.

A leviandade provinda nos atos sórdidos do sexo masculino, que despreza “aquilo que pensa amar”, transforma a solidão da desgraçada mulher em livramento das amarras humilhantes as quais esta é submetida. Sua ascensão como ser sublime e independente o faz, um dia, bater em sua porta novamente que, apesar dos perigos vindos de fora, sempre estará aberta para oferecer-lhe proteção.  

Nestor

Nestor se encontra enfermo
Muito enfermo de amor.
Por ela
Ai dela! Que não o quis mais
E o trocou por Tomás.
O garotão da rua 15
Cheio de malandragem
Lá daquela esquina detrás.

Nestor
Se encostou em seu canto
E num pranto contido
Chorou pela ingrata
Que tanto fora amada
Pela bela besta quadrada.

Nestor
Nestor
Quis sua dor aniquilar
E, num ato desesperado,
Foi dela se vingar.
Mas chegando lá,
Tomás, que gostava de lutar,
O surrou
E quase o matou!

Nestor
Nestor
Nestor
Quanta desilusão!
Nesse coração humilhado!
Açoitado,
Traído pelo amor
E vencido pela dor.

Nestor!
Nestor!
Nestor!
Nestor!
Onde vais com tanta pressa?
E ele correndo depressa foi.
Tarde demais.

Foolish


Mais uma vez, fora ele afogado no desgraçado mar de lama. Lágrimas de remorso fertilizaram o ódio de ter exposto tão cegamente tua carne sobre outra. Mais uma que o  deixou à míngua na sarjeta da solidão. Esperança vã num alguém que sob a carapuça de boa moça, esconde uma negra alma egoísta. Dessa vez, disse ele, “não deixarei a dor me consumir, destruindo minhas células que clamam por vida. Tu, mulher ingrata, mereces somente minha indiferença e desprezo”.
Do casulo repugnante, onde a larva se aconchega, nascerá uma linda borboleta, ávida por merecer o que é de certo seu e que já lhe fora prometido. Na lei divina de ação e reação, os atos sórdidos e cínicos da mulher vil, a trarão a inevitável infelicidade. Ser o causador de sofrimento alheio é pior que ser a vítima de tamanho infortúnio.
Assim, envolto no torpor de sua dor, disse ele um dia: “Buscarei o amor na vida e em seus ínfimos prazeres escondidos e nunca mais, porém, hei eu, de buscá-lo num qualquer outro alguém”.

Alice in the wonderland

Alice in the wonderland     

Não
Não quero sentir-me presa.
Minhas asas brutalmente ceifadas,
Se perderam num destino qualquer.

Já não posso mais
Embevecer-me dos mais altos voos solos
E respirar liberdade.

O que resta de mim?
Se não lamentar por ser
Mais um rato engolido pelo sistema
E subordinado ao monótono ramerrão do massante day by day?

Saudade
Da minha liberdade,
Da ausência dos ruídos das máquinas queimadoras de combustão.
Da neve,
Do lago,
Do sol
E do mar.

Ideologia,
Hoje apenas um retrato perdido;
Posso inalar o cheiro da miséria.
E nas convenções emocionais dispensadas,
Que jorram no meu peito em carne viva,
Me rendi à razão,
Que se deixou levar pela sedução do escambo monetário,
Pressionada pelo homem primata que é o que não quer ser.

Melancolie
Je conçois très bien.
Nostalgie,
Permettez-moi
Olvidame para todo sempre
Já não a suporto mais.

Sou mais uma errante
Nesse mundo de covardes
Que esquecem de seus sonhos
E deixam o medo lhes serralharem os olhos.

As ruas já não são mais limpas
As árvores já não dançam mais sob o sussurro da leve brisa vinda do mar.
As ondas já não me fazem ninar.
E o sol,
Que não vejo mais;
Me abandonou
Na terra dos cangurus que falam uma língua enrolada.

Volte,
Assim rogo!
Trazei abrigo
Para esse coração desprotegido!
No consolo calado
De minha tristeza
E eterna insatisfação,
Mergulho na certeza de minha infinita incerteza
Perdida no vazio de minhas aflitas emoções travadas.