Numa triste manhã de primavera, em que as árvores rangiam ao compasso descontente do vento, uma maltrapilha vive a epifania de seus pensamentos. Observando o naufrágio do dia através das águas barrentas dos momentos desperdiçados, lá vai ela falando para si mesma que “nada existe fora de nós, exceto um estado de espírito, um desejo de consolo e alívio”.
Ela se pergunta como os seres humanos ainda aceitam viver nessa mentira universal carregada de ilusões. Os cegos por conveniência optam por não ver como a vida pode ser simples. O mundo está cheio de homens covardes. Ela prefere viver como uma livre pensadora.
Por que somente ter e nunca dar? A vida deve ser vivida para trabalhar, amar e servir. Somos nossos próprios prisioneiros, perdidos no labirinto do jardim desconhecido, cheio de curvas e voltas.
Seus pulmões podem inalar o odor de miséria existente no mundo e sua alma sufoca na corrida emocional das eternas insatisfações carnais que turvam a clareza da fé. Na sarjeta de violentos sentimentos, ela passará pelo caminho da vida sem arrependimentos. Sua coragem clama por uma explicação não materialista da vida. Essa fome insaciável de poder que governa o mundo é a principal causa da injustiça humana.
Sua devoção servil pela vida real sabe que o que as pessoas dizem, a maneira padrão de vida, os modelos que devem ser seguidos, dinheiro, poder e beleza plástica são apenas tolas efemeridades que a humanidade insiste em se apegar. Para ela, “viver” no seu significado real é muito mais do que toda essa porcaria que nos é vendida a cada dia. Para este ser de aparência maltrapilha, a partilha, o amor, o trabalho para o bem comum e o respeito pela natureza são a pura essência da vida.
“Nada dura muito tempo”, diz ela andando pela rua e agradecendo por ser o que ela é. O sol nasceu e mais dúvidas e perguntas tentando descobrir por que o mundo está em caos tão profundo não a incomodam. Ela apenas fará sua parte e viverá em seu mundo paralelo pacificamente, evitando ataques externos.
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